Motivos para preservar a restinga
A restinga é um ecossistema costeiro associado ao bioma de Mata Atlântica, reconhecido pela grande resiliência e biodiversidade de plantas e vegetais. Sua vegetação de hábitos e portes variados desenvolve-se em ambientes com extremos de temperatura, ventos fortes, escassez de água e solo arenoso, ocupando áreas que pouquíssimas outras plantas conseguiriam habitar.
Restinga da Praia de Itaparica, Vila Velha/ES. Foto: Leonardo Merçon
Apesar de sua complexidade ecossistêmica, favorável à sobrevivência, sua resiliência parece não ser suficiente para lidar com os impactos da exploração humana.
Um dos grandes motivos é sua localização próxima às faixas de areia das praias, local onde muitas pessoas desejam construir suas casas. Por essa razão, é comum observarmos a degradação da vegetação nativa para construção de casas, prédios, grandes empreendimentos, além da abertura de acessos às praias e construção de restaurantes e comércios cada vez mais próximos do litoral.
Restinga da Praia de Itaparica, Vila Velha/ES. Foto: Leonardo Merçon
O desmatamento também ocorre para extração de areia, sal e para cultivo de frutos do mar (como o camarão), atividade que demanda grande quantidade de água salgada e, por isso, levam produtores à construírem suas fazendas próximas ao mar.
A preservação da restinga vale muito mais do que sua degradação para atividades comerciais ou construção de empreendimentos. Para provar, listamos alguns motivos pelos quais devemos preservá-la:
Combate à erosão
A restinga apresenta uma complexa rede de filamentos e raízes capaz de “fixar” a areia da praia e impedir que ventos fortes a desloquem até o continente. Esta retenção previne o avanço do mar em direção às cidades e a conservação da infraestrutura urbana, evitando a erosão de ruas, calçadas, muros e estabelecimentos comerciais.
Além disso, a restinga promove a conservação de outro ecossistema igualmente importante: o manguezal. Este local de transição entre os ambientes terrestre e marinho, típicos de regiões tropicais, sobrevive graças à retenção de areia que impede o “soterramento” de suas zonas alagadiças.
Lar de espécies silvestres
Muitas espécies de aves migratórias encontram na restinga um local de refúgio, alimentação e descanso. A degradação do ecossistema pode se tornar problema de escala internacional, uma vez que afeta, diretamente, a biodiversidade de outros continentes.
O ecossistema conta, ainda, com uma ampla variedade de espécies silvestres que desempenham papel ecológico fundamental para o ciclo natural do planeta. A restinga protege os ninhos das tartarugas marinhas, atualmente ameaçadas de extinção, e serve de abrigo para espécies de crustáceos, como siris e caranguejos. Os gambás, marsupiais comuns aos meio urbano, essenciais para o controle de pragas e manutenção da nossa biodiversidade, também a utilizam como área para proteção, moradia e busca por alimento.
Gambá registrado no Parque Estadual Paulo César Vinha, a maior area de preservação de restinga do Espírito Santo. Foto: Leonardo Merçon
A perda de habitat é fator de risco para extinção destas espécies, além de fomentar problemas de saúde pública com a “invasão” de alguns animais ao meio urbano.
Animais típicos da Restinga. Fotos: Leonardo Merçon
Biodiversidade vegetal
Por mais que muitos acreditem que a restinga consiste apenas em “um monte de mato na areia da praia”, sua biodiversidade de espécies vegetais é bastante impressionante.
Nela, podemos encontrar plantas frutíferas, como o Maracujá-selvagem e a Pitangueira, plantas ornamentais, como a Aroeira e variadas espécies de Cactos, e espécies de caráter medicinal, como a macela-do-campo e o Mastruço-do-brasil.
Esta grande biodiversidade vegetal contribui para o desenvolvimento de pesquisas, novas tecnologias e como fonte de recursos para comunidades tradicionais.
Pesquisa sobre a restinga na Praia de Itaparica, Vila Velha/ES. Fotos: Leonardo Merçon
Fonte de renda para a comunidade
O ‘ecoturismo’ movimenta a economia de muitas comunidades que fazem uso sustentável das áreas de restinga. Estas famílias usam a matéria-prima do ecossistema para confecção de artesanato e preparo de pratos típicos, iguarias e chás medicinais, conquistando seu espaço como uma atração turística cultural. A conservação da restinga garante a prevalência do conhecimento cultivado por estas comunidades e a prevalência de benefícios socioeconômicos para toda a região.
A maior parte da população brasileira está concentrada no litoral do país e, por isso, precisa pensar no desenvolvimento das cidades a longo prazo. A manutenção da restinga deveria ser ponto crucial do desenvolvimento de planos urbanísticos, a fim de impedir que o mar avance em direção às cidades, as faixas de areia reduzidas e as estradas, erodidas.
A preservação da restinga vai muito além de questões ecológicas, estendendo-se ao âmbito social, econômico e cultural. Uma restinga degradada pode gerar problemas de infraestrutura, saúde pública e afetar a economia local, uma vez que a recuperação de grandes áreas naturais, além de difícil e demorada, exige altos investimentos de mão de obra para ser realizada.
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