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Foto do escritorEquipe UR

Juntos pela Baía das Tartarugas! Conservação da Natureza e Desenvolvimento Comunitário.

No contexto dos recentes debates relacionados ao tema da Área de Proteção Ambiental (APA) Baía das Tartarugas, compreendemos, como membros da comunidade capixaba e da sociedade civil organizada, a necessidade de nos posicionarmos.

Entendemos que a Baía de Vitória constitui-se como uma área pública da qual uma parcela da comunidade tira também o seu sustento e/ou realiza atividades importantes para suas vidas – de moradores locais, esportistas, pescadores, turistas a comerciantes. Estamos certos de que todos querem e prospectam o melhor para nossa querida Baía das Tartarugas. Acreditamos que a APA seja um bem público coletivo. Ela é de todos nós!


Enquanto Instituto Últimos Refúgios, estivemos envolvidos com a área ainda antes da criação da APA, e posteriormente, lançamos o Projeto de Conservação da Baía das Tartarugas. Nossa missão é a busca e a construção de uma relação equilibrada entre as pessoas e a natureza, envolvendo todos os pilares da sociedade: o poder público, a comunidade, sociedade civil e as empresas privadas. Somos uma organização capixaba sem fins lucrativos, comprometida com a nossa terra e nosso povo – e por nossa história de atuação, nos entendemos como parte dessa discussão e acreditamos que podemos contribuir na formulação de soluções que envolvem o lugar em que vivemos.

Vitória é um dos lugares mais bonitos e com um dos maiores potenciais turísticos do mundo. No entanto, esse atributo não chega a ser verdadeiramente explorado como poderia. Ainda que os impactos sejam grandes, temos uma rica biodiversidade. Imaginem se o lugar fosse realmente conservado?

Nossa cidade é citada em livros de naturalistas que passaram por aqui há 200 anos, como sendo o lugar com a natureza mais rica que já haviam visto. E saibam que essas pessoas eram viajantes! Rodavam e estudavam o mundo inteiro quando este ainda era bem preservado. São peixes de coral, cavalos-marinhos, grandes cardumes de arraias, grupos de golfinhos e tartarugas-marinhas. Uma área reprodutiva de muitos animais, como baleias, peixes e aves costeiras. Já até registramos desovas de tartarugas em Camburi, por exemplo.

Aqui realmente temos algo especial. E isso não é à toa. As correntes marinhas vindas do norte encontram-se com as vindas do sul, criando um ambiente ideal para a vida. A cadeia Vitória x Trindade é de fato um grande divisor: são longas praias de areia ao norte e praias curtas e cheias de pedras ao sul... e o epicentro disso tudo é Vitória. Exatamente a BAÍA DAS TARTARUGAS, que além do já mencionado é enriquecida pela biodiversidade do banco dos abrolhos, que se estende até o norte do Espírito Santo e também por um grande e importante manguezal, sendo um dos maiores do Brasil e do mundo, um fantástico berçário.

Esses são alguns dos motivos para termos tanta vida por aqui: uma configuração geográfica rara e que, se bem conservada, pode ser um grande ativo para qualquer cidade! Nesse contexto, inclusive, é que o Instituto Últimos Refúgios busca também contribuir - como por exemplo com a publicação do livro que vem sendo produzido há mais de dois anos (com lançamento previsto para início de 2024) e cujo tema são exatamente as potencialidades da Baía das Tartarugas, apresentadas por meio de registros fotográficos artísticos e mapeamento das questões sociais e ambientais. Almejamos que a publicação seja uma ferramenta sensibilizadora para a conservação da APA e impulsionador do fomento das atividades turísticas na região.

Por se falar em "Conservação" e não em "Preservação", nesse sentido, a condição de vida das pessoas deve ser levada em consideração. Logicamente que, para qualquer plano de conservação de uma área, é preciso um forte trabalho social. Nos referimos aqui ao diálogo com a comunidade local, criação de oportunidades e desenvolvimento de novas cadeias econômicas sustentáveis: identificar potenciais e trabalhar para torná-los acessíveis para a população. Sabemos que a tarefa não é simples, no entanto é um desafio que precisamos enfrentar.

É importante registrar que, se por um lado acreditamos que a pesca predatória dentro da APA seja um retrocesso, isso não significa ignorar uma economia tradicional familiar que se constituiu de pescadores e catadores que dependem, para sua sobrevivência, da exploração da área. Essa não é uma questão política local – como muitos acreditam, mas um debate global que precisa ser encarado se quisermos continuar existindo como sociedade. O bem estar de todas as pessoas envolvidas nesse cenário precisa entrar na lista de ações prioritárias para a conservação da Baía das Tartarugas. Deve haver uma solução emergencial que assista aos pescadores que passam necessidade AGORA, e a médio e longo prazo, é preciso haver esforços para uma solução mais duradoura e sustentável para todos e que não envolva a matança da biodiversidade presente nesse berçario tão importante.

Nos servem de inspiração ações de sucesso como as do Projeto Tamar, que se aproximou dos caçadores de tartarugas – os carebeiros, trazendo-os para perto e tornando-os co-partícipes das ações de conservação de espécies de tartarugas-marinhas ameaçadas de extinção.

Chamamos a atenção para a grande importância do Plano de Manejo da APA, cujo objetivo principal deve ser a sua conservação, garantindo o bem estar social de toda a comunidade - com garantia de zoneamentos para a proteção mais criteriosa em áreas mais sensíveis, onde as matrizes dos animais tenham a tranquilidade para reproduzir e repovoar toda a região, e áreas reservadas para as atividades econômicas, incluindo a pesca, caso não sejam possíveis novas soluções: esse é um bom negócio inclusive para os pescadores.

A Unidade de Conservação APA Baía das Tartarugas foi criada porque a biodiversidade local é sensível e importante. É possível que alguns não conectem uma coisa com a outra, mas quem já não ouviu histórias de como atualmente aparecem menos peixes nas redes dos pescadores do que antigamente? Se isso é verdade, esse é um grande sinal de que é necessário proteger ambientes mais sensíveis como o manguezal e a Baía das Tartarugas, visando não somente o potencial ecológico e turístico, mas o potencial desse tipo de área abrigada em ser um grande repositor de estoques pesqueiros. Esse é um dos motivos pelos quais a pesca com redes de espera é proíbida na região.

Para vocês que lêem este texto, perguntamos: qual o valor da Baía das Tartarugas? Cada um, provavelmente, tem uma resposta diferente. Precisamos ouvir a TODOS, fazer uma valoração e saber quanto esforço e recursos estamos, como sociedade, dispostos a investir na proteção dessa região.

Sim, será necessário um grande esforço. Porém, as consequências de escolhas não sustentáveis e o não entendimento de valor do que temos de mais precioso, poderá cobrar preços ainda maiores em breve. No futuro, contarão a história do que estamos discutindo hoje... não necessariamente sobre a APA, mas sobre a conservação e o valoração (não o preço) da natureza. E essa é uma questão que devemos resolver juntos – dizemos juntos com muita ênfase, pois se não nos ajudarmos, se não trabalharmos para buscarmos uma solução conjunta, certamente ninguém ficará satisfeito.

Nós, do Instituto Últimos Refúgios, nos importamos não só com a natureza, mas também com as pessoas. Defendemos as Unidades de Conservação e a proíbição da pesca nas mesmas, pois sabemos que qualquer passo para trás dado hoje em relação à proteção da natureza, ainda que para mitigar questões sociais atuais, será potencializado em desafios ainda maiores em breve. Porém, voltamos a reforçar para não deixar dúvida: também é igualmente necessário termos empatia pelo sofrimento causado às pessoas que têm sua forma de sustento impactadas pelas iniciativas de conservação necessárias. Essa parcela importante da comunidade não deve ser marginalizada nem deixada desamparada. Não defendemos a liberação da pesca predatória, mas sim, ouvirmos as pessoas e buscarmos alternativas sustentáveis em conjunto.

Sabemos que esse debate é complexo e não se esgota aqui, mas acreditamos na capacidade de construirmos uma solução à altura de uma sociedade evoluída, consciente e alinhada aos esforços globais pelo desenvolvimento sustentável.

Vamos juntos pela Baía das Tartarugas e pelo bem estar de todas as pessoas!

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