Ana Clara Mardegan - Instituto Últimos Refúgios
Pesquisa aponta gambás como polinizadores de plantas
Um vídeo feito por professor e alunos do Instituto de Biociências da UNESP, campus Botucatu, documentou um gambá da espécie Didelphis aurita na Reserva Biológica da Serra do Japi, interior de São Paulo. O marsupial foi registrado bebendo néctar de uma planta nativa, indicando seu forte potencial como polinizador de espécies vegetais. Confira o vídeo:
A pesquisa coordenada pelo professor e biólogo Felipe Amorim monitorou a espécie Scybalium fungiforme e sua interação com polinizadores. A planta, nativa da Mata Atlântica brasileira, atraiu insetos, beija-flores e roedores, mas teve o gambá como visitante mais assíduo: o animal foi observado em quatro dos seis dias de expedição.
O vídeo foi registrado por uma câmera com sensor infravermelho, ideal para imagens noturnas. Deste modo, os alunos conseguiram monitorar o comportamento dos visitantes da Scybalium fungiforme durante a noite, período de maior atividade dos gambás.
A descoberta foi divulgada em canais internacionais de difusão científica, como o site da Science, e publicada na revista Ecology, focada em fenômenos ecológicos. O periódico pertence à Ecological Society of America (ESA), organização sem fins lucrativos idealizada por cientistas e pesquisadores.
Há quase 30 anos, a professora Patrícia Morellato, da UNESP Rio Claro, sugeriu que gambás poderiam ser agentes polinizadores. Um de seus trabalhos resultou na captura de um marsupial com vestígios de pólen no focinho, uma possível evidência da teoria. Neste ano, a bióloga finalmente pôde receber o veredito - positivo - de sua pesquisa não concluída.
O estudo apresenta uma nova perspectiva sobre a importância ecológica dos gambás na natureza. Além de atuarem na distribuição de sementes, no controle da população de cobras, carrapatos e escorpiões, e como bioindicadores da qualidade de habitats naturais, agora revelam-se agentes polinizadores.
Didelphis aurita. Foto: Felipe Amorim
A planta monitorada, pertencente à família Balanophoraceae, é uma holoparasita. É conhecida por hospedar-se em trepadeiras e atuar no controle da espécie, por vezes prejudicial ao desenvolvimento das plantas ao redor. A relação trófica apresenta benefícios para ambas as espécies, já que a planta parasita, uma vez polinizada, serve como importante fonte de alimento ao gambá. A interação ecológica, portanto, pode ser essencial ao equilíbrio das florestas.
Scybalium fungiforme. Foto: Felipe Amorim
Por ser de pequeno porte e rente ao solo, a Scybalium fungiforme é ideal para a polinização por gambás, mamíferos capazes de alcançar áreas de difícil acesso à outros polinizadores, como borboletas, abelhas e beija-flores. Além disso, são capazes de memorizar trajetos complexos, tornando a polinização mais frequente e eficiente.
Os alunos continuarão os estudos sobre a descoberta, responsável por apresentar um novo panorama sobre a importância ecológica dos gambás na natureza. O Projeto Marsupiais apoia - e desenvolve - pesquisas sobre os marsupiais da Mata Atlântica brasileira, e trabalha em prol da divulgação científica de forma acessível à todos os públicos.
Em breve, o trabalho original estará disponível gratuitamente para download na página da Ecology. Acesse e confira.
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